
Desfez-se o sonho.
Não o posso sonhar mais.Numa questão de segundos quebrou-se em mil cacos , tão pequenos e tão incolores que me é impensável , agora, sonhá-lo outra vez.
Desfez-se e eu tinha as mãos atadas pelo medo e nem se quer consegui amparar o sonho.
A realidade é rotina , é igual , é amarga.
Os sonhos , esses são doces como o mel , são sempre diferentes e o que é mais apelativo neles é o facto de serem impossíveis.É um sonho e este é sempre impossível , mas este desfez-se.
O que outrora fora sedoso , límpido e de uma inocência tal , não passa agora de um monte de cacos que estão a ser varridos pela vassoura da realidade.
Um sonho é vivido , ou pelo menos deve ser, com a mesma intensidade , ou talvez mais ainda , que a nossa rotina.
Um sonho deve ter a intensidade de um sol de Verão e ter a força de uma tempestade de Novembro.
Um sonho pede alma , imaginação.A alma é tão mais misteriosa e preciosa que o corpo.
Nem todos pensam assim , eu sei , mas não estou para discutir: falta-me força.
Apenas afirmo que o sonho exige alma.
Tenho pena daqueles que , nas noites de calor , quando olham para o céu estrelado do campo , não conseguem ver para além das estrelas; aqueles que se contentam apenas com um segundo desse magnífico fenómeno onde a noite é visitada pelas estrelas.
Tenho pena daqueles que não se questionam , daqueles que insistem em não procurar respostas.
Tenho pena daqueles que não apreciam as coisas mais simples e consideradas tantas vezes banais : um olhar , um sorriso , uma palavra dita ou revelada sem nada pedir em troca .
Tenho pena ainda daqueles que não sabem dançar na calçada de desenhos ondulantes numa noite de chuva : aqueles que não a sabem receber.
Odeio os corações mesquinhos e as criaturas de pequeno valor , porque apesar de me refugiar no sonho eles estão presentes: é a realidade.
Observem um pôr-do-sol , apanhem as gotas de chuva e acima de tudo sonhem ....
Acima de tudo , experimentem sonhar ...